Área do trigo no Rio Grande do Sul pode cair 18%

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Os revezes climáticos no Rio Grande do Sul, como a seca recente do último verão, não afetam apenas as culturas da estação em que acontecem. Multiplicam efeitos ao longo do ano e vão impactar sobre as culturas de inverno. O diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, projeta uma redução de área em geral das culturas de inverno, salvo o plantio da canola, que deve se manter numa faixa de crescimento dentro do normal. No caso do trigo, o dirigente estima um recuo significativo.

“Tínhamos no ano ado uma área aproximada de 1,350 milhão e se neste ano chegar a 1,100 milhão será muito”, alertou Jardim.

Ele também aponta a descapitalização dos produtores rurais (em consequência das perdas na soja principalmente) como um dos fatores preponderantes para essa retração, junto com o endividamento do agricultor. “Não tivemos ainda notícias dos pleitos em termos de renegociação de dívidas”, desabafou.

Outros motivos relevantes, segundo Jardim, são a desvalorização nos preços da soja, a dificuldade de obter crédito para a semeadura, e a indisponibilidade de seguro agrícola. O dirigente aponta que a oleaginosa é o principal produto para o produtor rural fazer dinheiro e lembra que as cotações estão baixas. Afirma também que a obtenção de crédito está complicada em razão de que não há juros áveis pela atividade no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).

Hamilton Jardim lamenta que a cultura do trigo, alimento do qual o Brasil ainda é muito dependente da importação, não tenha incentivos e uma política agrícola fomentada pelo governo.

“O trigo é a cultura que o produtor espera ter resultado de produtividade com qualidade, pois é uma renda para o final do ano”, justificou.

O dirigente destaca que mesmo se resoluções para o alongamento dos prazos de pagamentos das dívidas rurais (provenientes de secas sucessivas e da enchente de 2024) fossem anunciadas neste momento não seriam suficientes para reverter a tendência de redução das áreas de plantio das culturas de inverno. “Reverteria um percentual muito pequeno, pois o produtor tem que tomar sua decisão tempestivamente. A tempestividade é agora porque a janela de plantio já começou e muitos já desistiram totalmente da atividade”, finalizou, acrescentando que o preço do cereal no Mercosul também está muito baixo.

De acordo com os dados divulgados pela Emater/RS-Ascar, em dezembro do ano ado, em 2024 o Rio Grande do Sul produziu 3,75 milhões de toneladas de trigo, semeados em 1,322 milhão de hectares, com produtividade de 2,839 quilos por hectare.